EDITORIAL - VIGÉSIMA TERCEIRA EDIÇÃO!

Ora, ora! O que queres por aqui? Nós sabemos o que queremos - escarrar verborragias gosmentas sobre seus miolos. Com muita satisfação. O que desejas? Um cu, com ou sem acento? Cú? Mas cuidado, de lá sai muita coisa. Gases. E merda.  Falando nisso, não esqueça de fertilizar seu jardim. Da escrotidão nascem coisas maravilhosas. O mundo das ideias rasteja na lama dos restos infecundados. A arte, por essas bandas, jorra, brota, da podridão. E por aí, do lado de lá? Do outro lado? O que faz gozar? Qual a arte que brota do seu corpo, do seu prazer ou da sua podridão? Pararei com as perguntas. Pare também de se perguntar. Mergulhe nas linhas abaixo. Lambuze-se na lama. E esqueçam de salvar a alma.

HOJE É UM DIA


“Hoje é um dia, ou hoje é o dia, talvez o dia que me faz pensar naqueles outros dias, quando eu simplesmente vivia os dias, sem deixar os dias dissiparem os próprios dias, que se iam consumindo sem ver os dias que vinham após dias, seguindo mansos e bravos em direção de mais dias... Só que não tem mais dias, e os dias não consomem outros dias e não se pode esperar mais dia algum, pois de dias morreu o espera por aquele dia.”

Pensei em mandar esse poema para ela, contudo, pareceu-me muito redundante, o que para um poema não deveria ser estranho, afinal, eles redundam, faz parte da sua natureza. Contudo, não era a natureza que eu buscava, não poderia sê-la, a natureza havia reduzido o que éramos ao nada que agora somos: dois depravados buscando orgasmos pelo webcam.

A ideia inicial fora dela, queria exibir os novos movimentos que tinha aprendido nas aulas de dança do ventre. Com o véu negro em mãos, disse, do outro lado do estado, para eu imaginar que aquele pano era as minhas mãos. Tencionou-o para em seguida friccioná-lo sensualmente por entre as pernas volumosas, o tecido foi e veio com delicadeza voraz por entre os lábios rosadas da vagina inundada de prazer.

A MALDIÇÃO DA LAMBIDA


A borrasca fazia-se terrível. Raios. Relâmpagos e trovões. Cheiros dos mais variados pairando no ar. O negror da noite encobrindo céus e terras. E as palavras proferidas. Maldições esbaforidas. O eco se dava em todas as línguas. Mortas. Extintas. Ou vivas.

 
‒ Tudo que eu lambo é meu! Tudo que eu lambo é meu! Tudo que eu lambo é meu!

Fez-se assim a língua profana. Tudo que ele lambia era dele. Profecia sagaz. Talvez. Lambeu palácios de ouro, reis e rainhas. Lambeu cu e buceta e pau. E foi se adornando do mundo. Senhor de tudo que sua língua podia tocar.

Evitava, porém, as bocas, as outras línguas. A falha da magia da profecia. Uma língua lambida tornava-se dele, e tudo que ela lambia seria, por sua vez, seu. No entanto, lamber não era beijar. O beijo era o ponto de desgraça de tudo.

CU DE FETO É POESIA


Já o copo nem encho muito, o líquido nele pouco verte, pois sei que logo esbarro e mancho o chão com vidro borrado de roxo, e sem pensar em nada mais que nada à mente voa a filosofia do avô enterrado: cu de feto é apertado, e quem escreve poema poeta nem sempre é. E ao lado o dobro de ovos que tenho no escroto, todos cozidos e cuspindo cheiro acre no ar, do lado de cá o meu estômago vomitando gazes pelo reto e eu pensando naquilo, naquela ânus que não foi meu.

Conhecia-a através de um amigo, um sujeito com madeixas afinadas e crises de melancolia infanto-juvenis que afastavam dele os poucos adultos tolerantes da cidade. Naquela noite zumbizava eu nas teias do sistema quando uma mensagem qualquer me esmurrou o rosto, desprovido de vontade, disse sim, e pouco depois lá eu estava, já em segundos discutindo com a menina, e aquelas madeixas afinadas e afinadas baloiçando cá e lá.

FILOSOFIA, QUE MERDA É ESSA?


Minha vida, como fede
Cheiro sólido e branco
Manchado de sangue verde
não sei o que é
nem sei quem sou
sempre errado, sempre errado

Perdido encontro-me
nos labirintos de meu odor
atrás de mim um rosto de merda
em minha frente só a paz da morte
não sou o melhor nem o pior
sobre tanto aspectos falho
deveria ficar contente
quando nado esgoto?

UM DEVANEIO ESCATOLÓGICO





‒ Um passo adiante! Bradou alto o homem grande a minha frente, usava um uniforme verde alguma coisa, esteticamente deplorável e ridículo, na minha humilde concepção. Fui-me. Sonolento. Ressacado. No bolso da casaca, um pequena garrafa contendo um pouco de vodka barata. Meu olhar era melancólico, absorto e patético. Não queria nada. Nem confrontar aquele ser hediondo.

‒ Seu mariquinhas, vai aprender a ser homem.

Apático, envolvido em minhas sinapses escatológicas e nonsense’s, eu com nada me importava. Talvez, um pequeno incômodo com a saliva que daquela bocarra. Pensava eu: já estou com saudades de empinar a garrafa, balançar o leque e pensar sobre coisas irreais. E criar teorias new-ciber-punk sobre a nossa existência humana.

Mas a guerra aproximava-se. Eles queriam meus membros jovens e minha mente. Essa última seria difícil de conquistar, tendo em vista que eu mesmo dela perdia-me.

Nesse instante algo bizarro aconteceu. Meu pênis saiu de mim. Transfigurou-se.

DAS BOSTAS FLORESÇAM FLORES


Eu tenho bruxismo.

Meus caninos já não tem pontas.

Nunca tenho vontade de sair de casa.

Jamais trocaria o conforto e a solidão de meu quarto por qualquer convívio social.

Mas não tenho esta escolha.

Sinto-me condicionado em todos os momentos.

Penso ao menos uma vez ao dia em o quanto seria bom morrer para não decepcionar ninguém com meu futuro.

Não tenho coragem de me matar porque sei que isso causaria sofrimento aos meus pais, não sou egoísta a ponto de priorizar o meu prazer em detrimento da dor dos outros.

Mas é claro para mim o quanto a agonia de viver faz com que eu só consiga associar prazer ao pensar em minha morte.

Sou um fumante compulsivo, eu fumo pelo câncer, fumar para mim é um suicídio disfarçado.

Sou viciado em todos as drogas que uma vez provei, busco-as como válvula de escape, mas que nunca é suficiente.

Às vezes tenho coceiras sem alergias, acredito que sejam psicomáticas, reflexos do meu desejo de autoflagelação.